Google+ apresenta uma visão diferente das relações sociais
30Jun
2011
2011
Editor
O
Google+ abriu suas portas. O que logo salta aos olhos é a interface de
excelente usabilidade. A elegância das telas foge à típica falta de
beleza dos serviços online do Google. Se você já faz parte dessa nova
rede de relacionamentos (mais uma!) deve ter ficado maravilhado com o
recurso hangout, que faz da videoconferência algo ainda mais divertido e
fácil de usar. Por outro lado, o maior diferencial do Google+ está na
sua concepção de base, em sua visão de amizade e outras relações
sociais.
Quando
o orkut foi lançado pelo Google, a visão de seu criador era de que você
quer compartilhar tudo com seus amigos. Se você os acrescenta em sua
rede é porque você confia neles. Durante os primeiros tempos do Facebook
cada interagente só poderia ver informações de seus colegas da
universidade. Já no Twitter, qualquer pessoa pode lhe seguir e saber o
que você está compartilhando (salvo se sua conta não for fechada).
Inicialmente,
o orkut exigia que você "rankeasse" seus amigos segundo critérios de
intimidade. Isso não alterava em nada as interações futuras. Alguns anos
depois, tornou-se possível criar-se grupos,
a partir dos quais você pode definir critérios de visibilidade do que
você publica no site. O Facebook ainda guarda a concepção inicial de
redes (sua universidade, sua empresa) e a filtragem por amigos, amigos
de amigos ou por pessoas individuais. Existe a possibilidade de criação
de listas de pessoas (semelhante ao Twitter), mas sua configuração é
trabalhosa e elas não podem ser usadas para a filtragem do que você
compartilha. É justamente aí que o Google+ se diferencia.
O
sujeito pós-moderno transita por diversas redes, comunidades de
interesse e tem preferências tão diversas que um olhar moderno o
classificaria de esquizofrênico! Na modernidade primava-se pela
coerência e seguia-se uma moral punitiva. Já na pós-modernidade
valoriza-se o estar-junto, a coletividade e a convivência em novas
formas de "tribalismo", conforme defende Michel Maffesoli. Segundo o
sociólogo francês, a interação neste grupos diferentes (às vezes de
perfis até contraditórios) não pode ser vista como falta de coerência,
mas como "sinceridades sucessivas".
O
Google+ parte de uma visão semelhante dos relacionamentos sociais. Na
verdade, não existe falta de ferramentas para compartilhar fotos,
ideias, links, etc. O que não parece bem implementado ou é ainda é
limitado em outros serviços é a definição das pessoas ou grupos com os
quais você quer compartilhar detalhes de sua vida.
As fotos de
uma festa do trabalho interessam apenas aos seus colegas (que estava
também bêbados como você!); uma garota não quer que seu pai veja com
quem ela anda planejando a próxima viagem; uma mãe prefere compartilhar o
vídeo do nascimento de seu filho apenas com a família; um profissional
quer enviar planilhas sigilosas para seus sócios. Esses são exemplos de
situações muito particulares que não são de interesse geral ou que tem
detalhes que visam apenas um certo grupo. O Google+ quer facilitar não
apenas a comunicação (outros serviços já fazem isso), mas a definição
mais precisa dos círculos a que ela se destina.
O
recurso "circles" oferece uma interface muito fácil de usar e de bonito
apelo estético. É a partir da configuração de seus círculos de
relacionamento (suas tribos!), de suas comunidades de interesse, que
tudo vai acontecer. É o reconhecimento de nossa multiplicidade, da
fragmentação do sujeito, que o o Google+ pretende atrair o interesse de
quem já interage em outras redes de relacionamento. Vai ser difícil
arrancar as pessoas do Facebook e do Twitter (ok, do orkut também).
Existe um custo em começar-se tudo de novo. Mas o Google tem um trunfo:
sua conta no Gmail. De toda forma, acho que a briga vai ser muito
difícil. Agora, se o titã das buscas perder o embate, e depois de ter
amargado fracassos como o Wave (difícil de ser entendido e usado) e o
Buzz (que ofereceu problemas de privacidade), o Facebook vai se mostrar
uma ameaça ainda maior.
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