sexta-feira, 1 de julho de 2011

Google+ apresenta uma visão diferente das relações sociais - Alex Primo


Google+ apresenta uma visão diferente das relações sociais

30Jun
2011
Por Alex Primo
Editor

O Google+ abriu suas portas. O que logo salta aos olhos é a interface de excelente usabilidade. A elegância das telas foge à típica falta de beleza dos serviços online do Google. Se você já faz parte dessa nova rede de relacionamentos (mais uma!) deve ter ficado maravilhado com o recurso hangout, que faz da videoconferência algo ainda mais divertido e fácil de usar. Por outro lado, o maior diferencial do Google+ está na sua concepção de base, em sua visão de amizade e outras relações sociais.
Quando o orkut foi lançado pelo Google, a visão de seu criador era de que você quer compartilhar tudo com seus amigos. Se você os acrescenta em sua rede é porque você confia neles. Durante os primeiros tempos do Facebook cada interagente só poderia ver informações de seus colegas da universidade. Já no Twitter, qualquer pessoa pode lhe seguir e saber o que você está compartilhando (salvo se sua conta não for fechada).
Inicialmente, o orkut exigia que você "rankeasse" seus amigos segundo critérios de intimidade. Isso não alterava em nada as interações futuras. Alguns anos depois, tornou-se possível criar-se grupos, a partir dos quais você pode definir critérios de visibilidade do que você publica no site. O Facebook ainda guarda a concepção inicial de redes (sua universidade, sua empresa) e a filtragem por amigos, amigos de amigos ou por pessoas individuais. Existe a possibilidade de criação de listas de pessoas (semelhante ao Twitter), mas sua configuração é trabalhosa e elas não podem ser usadas para a filtragem do que você compartilha. É justamente aí que o Google+ se diferencia.
O sujeito pós-moderno transita por diversas redes, comunidades de interesse e tem preferências tão diversas que um olhar moderno o classificaria de esquizofrênico! Na modernidade primava-se pela coerência e seguia-se uma moral punitiva. Já na pós-modernidade valoriza-se o estar-junto, a coletividade e a convivência em novas formas de "tribalismo", conforme defende Michel Maffesoli. Segundo o sociólogo francês, a interação neste grupos diferentes (às vezes de perfis até contraditórios) não pode ser vista como falta de coerência, mas como "sinceridades sucessivas".
O Google+ parte de uma visão semelhante dos relacionamentos sociais. Na verdade, não existe falta de ferramentas para compartilhar fotos, ideias, links, etc. O que não parece bem implementado ou é ainda é limitado em outros serviços é a definição das pessoas ou grupos com os quais você quer compartilhar detalhes de sua vida.
As fotos de uma festa do trabalho interessam apenas aos seus colegas (que estava também bêbados como você!); uma garota não quer que seu pai veja com quem ela anda planejando a próxima viagem; uma mãe prefere compartilhar o vídeo do nascimento de seu filho apenas com a família; um profissional quer enviar planilhas sigilosas para seus sócios. Esses são exemplos de situações muito particulares que não são de interesse geral ou que tem detalhes que visam apenas um certo grupo. O Google+ quer facilitar não apenas a comunicação (outros serviços já fazem isso), mas a definição mais precisa dos círculos a que ela se destina.
O recurso "circles" oferece uma interface muito fácil de usar e de bonito apelo estético. É a partir da configuração de seus círculos de relacionamento (suas tribos!), de suas comunidades de interesse, que tudo vai acontecer. É o reconhecimento de nossa multiplicidade, da fragmentação do sujeito, que o o Google+ pretende atrair o interesse de quem já interage em outras redes de relacionamento. Vai ser difícil arrancar as pessoas do Facebook e do Twitter (ok, do orkut também). Existe um custo em começar-se tudo de novo. Mas o Google tem um trunfo: sua conta no Gmail. De toda forma, acho que a briga vai ser muito difícil. Agora, se o titã das buscas perder o embate, e depois de ter amargado fracassos como o Wave (difícil de ser entendido e usado) e o Buzz (que ofereceu problemas de privacidade), o Facebook vai se mostrar uma ameaça ainda maior.

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